sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Rapaz, parece covardia exceções haveria mas quando falamos em mulheres são todas iguais maioria

- Rapaz, eu ando com uma mania estranha meio paranóica cá da minha cuca que não consigo largar é mais forte que eu não consigo parar.

- Mania estranha, paranóica... De quê?

- Rapaz, chega assim Alicinha aqui perto de mim sinto uma vontade doida de recitar-lhe um poema dançar uma valsa tocar-lhe uma música segurar-te a mão abraçar-lhe o corpo balbuciar-lhe no ouvido que eu não consigo me segurar parece que Alicinha contém um imã que me atrai para dentro de ti louca magnitude impossível de segurar.

- Xiii, já lhe disse tudo isso?

- Rapaz, chega Alicinha eu mal consigo soletrar uma letra não dá pra explicar o sangue sobe corando minha face parece que comi malagueta das brabas e engoli um terremoto daqueles dos jornais porque me tremo por inteiro cruzes amigo o tsunami acho que aconteceu no meu corpo me alagou de poesia mais não sai nem rima nem ao menos um oi Alicinha zomba de mim ri da minha cara me vira as costas e flerta com outro defronte minha fuça.

- Aparenta ser grave!

- Rapaz, se é grave não sei ao menos tudo que lhe conto aconteceu mais de uma vez já virou mania parece ritual Alicinha chegou pá pum tudo igual minha cuca envia o sinal meu corpo obedece por bem ou por mal na verdade não tenho esperança de melhora alguma pois travo literalmente não enxergo cura você talvez poderia me ajudar amigo é pra essas coisas acredite nisso não só pelo samba que assim diz porque eu também agora lhe digo conto contigo?

- Ah! Lá vem!

- Rapaz, pois bem agora escute o que tu vais fazer não é nada difícil tão pouco impossível ficarei te devendo essa pelo resto de minha pobre vida quando sobrar algum dinheiro ou inspiração juro que lhe pago e lhe dou minha palavra de cabra macho quando eu juro está jurado pode me cobrar ou não me chamo

- Mas ande homem! Diga logo!

- Rapaz, quero que você procure Alicinha em meu nome e diga à ela que ela é a coisa mais linda que existe por cá nestas bandas e que eu sinto uma coisa tão doida por ela que em sua presença não soletro nem a primeira letra de seu nome mas vou melhorar desse tique nervoso e quero me casar com ela de terno na igreja na frente do padre assinar o papel pegar-lhe no colo levar-lhe em lua-de-mel pra uma viajem bonita tudo de primeira como sua mãe desejaria e ela vai ser a moça mais feliz desse mundo teremos 5 cinco filhos nenhum vagabundo um deles doutor Vicente Raimundo viveremos eternamente bem juntos como em novelas da televisão com aquela música no fundo.

- Hahaha E essa! Você mal consegue dizer-lhe uma palavra! Como vai pegá-la no colo, na igreja?

- Rapaz, faça o que lhe peço ligeiro não lhe devo explicações você é meu amigo confidente e parceiro te quero muito bem sei que me queres bem também então corra vá depressa não agüento mais esperar Alicinha tem que ser minha meu coração vai estourar só me juntando com ela pra esse tique passar mania de doido eu sei mas pra essa paranóia de amor só Alicinha é solução xispa salta ligeiro com destino a casa da minha amada amigo desnaturado se tudo der certo lhe serei eternamente grato.

- Hahaha Está bem! Só você! Amanhã lhe trago a resposta.

- Rapaz, vou fingir que não entendi amanhã tá maluco lhe está faltando parafuso olhe meu estado acredita mesmo que tenho condição psiquiátrica de esperar mais um dia estou começando a achar que o maluco aqui é você ou me traga essa resposta hoje ou me interne hoje mesmo em uma clínica para esquizofrênicos e me acabo pra vida por lá xô não quero isso sai pra lá portanto vá logo não da pra esperar Alicinha resposta sua quero jajá.

- Mas como exagera! Está bem. Agüente firme por aqui, lhe trago isso hoje mesmo.

- Rapaz, vá depressa confio em você não vá se atrever a me distorcer lhe transmita exatamente tudo que lhe falei acrescente somente pontos e vírgulas de resto não mude sequer uma sílaba seu pombo-correio de casa de vadia se não te esgano amigo da figa!

- Alto lá! Tu sabes que sou de extrema... Confiança!

- Rapaz, sei mas nunca é demais fazer uma pressão não se brinca nunca com o coração

- Chega! Estou partindo, até breve.

- Rapaz, boa sorte aquele santo que esqueci o nome das causas perdidas que lhe acompanhe confio em você sei que é homem volte com uma resposta positiva ou

- Ou o quê! Tchau!

- Rapaz, ou nunca mais escrevo poemas danço valsas toco violão transo com ninguém cruz credo não quero mais isso quero Alicinha e seu corpo bonito que me inspira todo me faz verso e prosa flutuando bem alto no meu mundo lírico eu e Alicinha juntos num livro mas não de Marguerite Duras melhor numa música mas não de Lupicínio Rodrigues melhor em um poema de Quintana é mais garantido um final feliz sem ninguém pra meter o nariz!

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- Rapaz, qual foi a resposta sou só curiosidade com mesclas de nervosismo meu tique está total dominante não me agüento mais estou pra surtar ou me fala agora ou pode me internar desembucha agora ande ande depressa amigo maldito Alicinha será pra sempre feliz comigo?

- Amigo, lhe digo estas com profundas lamentações: Alicinha não gosta de poesias, não dança valsas, não ouve músicas nem quer viver romances! Escute, amigo, ela não merece esta mania doida, que tu chamas de tique paranóico!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O trio que deixou saudade


Juventude: Ousadia, inovação, distorção, dissonância, irreverência, rock and roll.

A maior banda brasileira de rock de todos os tempos, atende pelo nome de Mutantes.

O trio, formado por Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee é com justiça até hoje reconhecida mundialmente como a mais criativa e dinâmica que nós já tivemos. Eu, particularmente, sou fã de toda a trajetória deles. Desde o seu início, quando fizeram parte da tropicália –participando, inclusive, de festivais de mpb e da gravação do antológico “Tropicália ou Panis Et Circenses” -, de sua fase psicodélica e progressiva.

O auge da banda foi durante a década de 70, com a gravação de “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado”, “Jardim Elétrico” e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets”. Após a saída de Rita Lee, ainda no início da década de 70, por motivos até hoje não bem esclarecidos, a banda abraçou de vez o rock progressivo. Entretanto, por motivos de desentendimentos internos, com a gravadora e envolvimento com drogas (principalmente por parte de Arnaldo), o grupo passou por uma crise.

A banda até hoje está aí. De sua formação original, apenas Sérgio ainda integra. Mas, evidentemente, sua formação original deixa saudades. Este blogueiro certamente é igual a muitos fãs que, fazendo um exercício de imaginação, fantasia como seria se Rita Lee não saísse da banda, se Arnaldo não tivesse abusado tanto dos alucinógenos... Quanto som bom a mais viria para nós?

Gostei muito de Rita com o Tutti-Frutti e adoro sua carreira solo.
Até hoje gosto do som do Mutantes.
Mas, o auge de ambos, foi quando estavam juntos, transmitindo-nos rebeldia, criatividade e talento.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O mesmo

O mundo parece simples
Tão simples que nem vejo
Que os anos assim se passam
E eu permaneço o mesmo

O mesmo de outros tempos:
Mesmos lugares frequento
Mesmos amigos tenho
Mesmos objetivos almejo!

Por isso quando alguém encontro,
Que há muito não vejo
E ele assim me pergunta:
O que tu andas fazendo?
Eu lhe digo: O mesmo!



Caminhava em direção ao armário com a intenção de organizar a desordem, posto que, no dia seguinte, estava de partida daquela cidade. Um barulho esquisito me fez interromper o trajeto: Era a campainha. Mais surpresa do que curiosa, fui atendê-la. Ao abrir a pesada porta de madeira jatobá, um funcionário do hotel ali estava. Imediatamente o identifiquei, pois estava devidamente uniformizado, seu braço encontrava-se estendido e a mão aberta, em gesto típico no qual os funcionários pedem gorjeta. Perplexa, pensei: “Gorjeta de quê?”, “Nem o solicitei aqui”. Indaguei:

- Pois não?
O rapaz respondeu:
- Com sua licença, senhorita, mandaram entregar-lhe.
Mal notara: Em sua mão havia um envelope, justifica-se aí a razão da posição de gorjeta.
- A mando de quem?
- Perdão, senhorita, o rapaz pediu segredo.
Certamente ele não revelaria o remetente, uma gorda gorjeta o silenciara.
- Pois bem, agradecida. E tratei de fechar a porta.

Ora, rapaz? Bilhete de um rapaz? Mal andei de papo com alguém deste lugar.
Minha apreensão só fez aumentar quando olhei para a carta que em minha mão estava: Um envelope velho, já outras vezes utilizado. O aspecto velho do papel só o tornou ainda mais misterioso, de modo que me guiei até a cama, com a intenção de o quanto antes desvendar o conteúdo da misteriosa carta.
Acomodei-me sobre a cama, com demasiada pressa abri o tal envelope e, de seu interior, retirei uma folha de papel. O papel estava escrito a punho, tinta preta, letras cursivas meio trêmulas. Seus escritos assim diziam:


“Amaralina, 22 de dezembro de 1958


Perdoe-me invadir assim seu quarto, por meio desta carta, é que coisas assim acontecem uma vez em vida, e não posso deixá-la escapar.
A vi aqui chegar, em um carro branco, cheio de bagagens. Por Deus! Como estava linda, senhorita! Senti algo diferente, que jamais havia sentido anteriormente, ao vê-la descer do carro, segurando a saia de seu vestido azul, olhando para o hotel, com semblante cansado.
Pois bem. Desde então, não consegui pensar em outra coisa, a não ser na formosa morena que aqui se encontra. E hoje, com pensamentos voltados em ti, perguntei a um funcionário (que fez a gentileza de entregar-lhe estas linhas), o quarto em que estavas e o dia em que partias. Logo, ele disparou: “A moça parte pela manhã”.
“Faça não!” Pensei: “Hei de falar com ela, não posso deixá-la partir”.
Conto-lhe que, a cerca de 3 horas atrás, ocorreu uma prova irrefutável de covardia masculina. Ao lhe ver na entrada do hotel, onde estamos hospedados, parti em sua direção, com o intuito de lhe dizer tudo que sinto. Quando estava quase a ponto de tocar-lhe o ombro e, finalmente, ver estes olhos castanhos voltarem-se para mim, comecei a tremer, suar e vi minha face se corar por inteira, a ponto de, até este momento, em que lhe escrevo, estar me sentindo calorento e trêmulo. Isso é de se zombar!
Após este ato de excessiva timidez, resolvi lhe dizer tudo o que queria através destas linhas, mal traçadas e mal escritas, mas justificáveis: Escrevo trêmulo e com pressa, na tentativa de adiar sua partida.
Senhorita! Suplico-lhe: Me dê a oportunidade de conhecê-la!
Apesar desta abusada atitude que cometi, de lhe invadir o quarto, lhe invadir os olhos e a paciência, assim agi por desespero. Sou gentil e educado, prometo não abusar mais do que das palavras!
Mas, se por um acaso, por algum motivo irreversível sua resposta for negativa, lhe peço: Deixe-me escrever mais para ti! Deixe-me seu endereço, quero lhe enviar cartas e mais cartas, frases e mais frases, linhas e mais linhas, versos e mais versos. Assim, desafogo o peito!

Para a morena que encantou e me tomou por inteiro,
Com as mãos trêmulas e o pensamento firme,
Fernando.”


“E essa!” Pensei, após recuperar o fôlego.
Levantei-me da cama, zonza (as palavras do rapaz, que agora sabia que se chamava Fernando, caíram como uma pancada em sua cabeça), segui até a porta pesada de madeira jatobá, chamei o mesmo funcionário que me havia entregue a carta, e lhe disse: “Cancele minha partida”, e logo obtive a resposta: “Sim, senhorita, com a rapidez de costume”.
Tratei de fechar a porta, sentei novamente sobre a cama, re-li a carta e pensei: “Como será Fernando?”.