quarta-feira, 9 de julho de 2008

Estação final


À minha fronte está uma moça que me lembra aquelas moças de outrora. Suas vestes e seu corte de cabelo me parecem distantes. Remetem-me a personagens de Machado de Assis, filmes antigos e fotografias de parentes falecidos. Assim que ela se levantou, prendeu a bolsa sobre o ombro direito, se encaminhou até a porta e saiu do trem, aquele local em que ela esteve, por minutos sentada, nunca mais será o mesmo.


Ao lado direito da moça, está um homem que gosta de homem. Seu vestuário justo e extravagante, cabelo pomposo com fios louros não sei de onde, e sapatos jaez, evidenciam a opção sexual do sujeito que, a todo instante, inverte a mão direita para o lado de fora do punho. Assim que o rapaz inclinou-se diante do assento e, bamboleando, conduziu-se para fora do trem, aquele pequeno pedaço do vagão, que por metros o separa de mim, nunca mais será igual.


Um pivete passa vendendo doces. Trata-se de um neguinho, com duas caixas sobre as mãos. Uma surrada camisa amarela, bermuda furada azul e um par de chinelos, vestem o magro corpo do pivete. Ele passa, de acento em acento, sem nada dizer, apenas esticando os braços, expondo as caixas, como quem pede esmola e, se a esmola for concedida, ganha o direito de tirar um doce da criança. Cada centímetro do piso do vagão, que as gastas sandálias do pivete pisam, alteraram-se. Não visivelmente, porém, definitivamente.


Minha estação fica próxima ao terminal, sou um dos últimos a deixar o trem, já póximo ao fim de seu itinerário. Reparo que, cada pessoa que o vagão abandona, para seguir o seu caminho, deixa ali, naquele espaço, um pouco de si, modificando o que ali estava. A todo instante, rotativamente aqueles assentos, aquele piso, aquelas barras, aquelas paredes, aqueles trilhos e aquelas estações estão mudando.


Como o vagão de um trem, nós, a cada momento, também mudamos. Cada segundo que passa, nos modifica, nos envelhece e não tem mais volta. Como os passageiros modificam o vagão do trem, as pessoas com as quais convivemos também nos modificam. A vida é como a estrada de trilhos, um dia chega ao seu destino final. E você, como está conduzindo essa viajem?

sábado, 5 de julho de 2008

Entrelaçando os meus ouvidos, Entrelaçando o vento


Dizem que, qualquer som emitido, ali daquele penhasco, ecoa.

Eu sempre achei eco uma coisa doida.

Imagine só: Você faz um barulho e, ele fica ali, ressoando, ressoando, ressoando... Flutuando, completamente perdido no horizonte, entrelaçando o vento, invisível, descompassado e poético.
O Eco é uma coisa doida.
O Eco é lindo.

Dessas coisas que só a natureza mesmo.

Por falar nisso, tem o nome de uma pessoa, nesse mesmíssimo instante, ecoando por entre meus ouvidos.

Será que, a individua, conseguiu chegar até aquele penhasco e gritou por mim?
Ah!... Se fosse!...

Naquele penhasco isolado, ecoaria a voz mais doce que por ali gritou. Flutuando, descompassada, entrelaçando os meus ouvidos, a deriva nos ventos, ventos, ventos, ventos...