terça-feira, 26 de agosto de 2008

Como querer Djavanear o que há de bom


Em uma de suas frases mais conhecidas, o dramaturgo Nelson Rodrigues afirmou que “toda unanimidade é burra”. Concordo, porém em partes.

Para mim, Djavan sempre foi uma unanimidade nacional. Descobri que estava errado por esses dias, quando em um bate-papo informal, em um bar, um amigo me confessou que Djavan não lhe agradava.

O cantor e compositor alagoano Djavan, destaca-se pela versatilidade. Em sua obra, trabalha com diversos ritmos musicais, explorando o sincretismo rítmico nacional.

Mudou-se para o Rio de Janeiro no início da década de 70, quando sua carreira começou a engrenar. Ficou em segundo lugar no Festival Abertura, com a canção “Fato Consumado”, e conquistou seu espaço de vez no cenário musical nacional com o lançamento do LP Flor de Lis, no qual a faixa título, um samba, fez estrondoso sucesso.

Em sua extensa obra, destaca-se a sutileza com a qual ele retrata o dia-a-dia, muitas vezes em composições metafóricas, confortáveis e coloridas. Coloridas, pois Djavan é um apaixonado pelas cores, tendo as explorado em diversas de suas canções.

Compôs com alguns dos mais consagrados artistas nacionais como Chico Buarque, Caetano Veloso e João Bosco, e teve suas canções interpretadas, além desses três, por Ney Matogrosso, Daniela Mercury, Gal Costa, Elba Ramalho, Maria Bethânia, etc.

Sem compreender os argumentos apresentados pelo meu amigo, para expressar sua opinião sobre não gostar de Djavan, creio que essa unanimidade sim, não seria burra, não fosse pessoas que gostam de dizer não enquanto todos dizem sim em coro uníssono.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"Melhor do que tudo, só mesmo o silêncio. Melhor do que o silêncio, só João"


Sortudo, privilegiado ou abençoado.

Não sei em qual destes patamares me incluo, apenas relato aqui que, no dia 16 de Agosto de 2008, última sexta-feira, eu estive no Auditório do Parque Ibirapuera, em São Paulo, assistindo ao show de João Gilberto. Sim, ele tocou seu violão, e cantou, perto de mim, daquela mesma maneira que mudou a cena musical brasileira há 50 anos atrás. Eu tenho 20.

Há 50 anos, interpretando canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Chega de Saudade), João Gilberto dava início ao que se chamaria depois de Bossa Nova. Com uma maneira totalmente diferente de tocar violão, impondo ao instrumento uma batida sincopada, combinando a isso um canto baixo e falado, ele modernizou a música brasileira, rompendo a batida tradicional do samba e finalizando de vez aquela época boleral.

Quem já ouviu os discos de João, pode ter uma idéia de como é emocionante ter a oportunidade de assisti-lo ao vivo. João e seu violão parecem um só, como que seu instrumento fosse uma extensão de seu corpo. Reforça esta idéia vê-los em ação, pois o músico cantando, daquele modo, e seu violão o acompanhando, forma-se um uníssono quase mitológico, aparentando que, a minha frente, encontra-se um ser metade homem e metade violão.

João Gilberto atrasou em uma hora o início do show.

Confesso que me emocionei no início de sua apresentação. Assim como me emocionei na oportunidade que tive de ir assistir Chico Buarque. É emocionante vê-lo se apresentando, ao vivo, perto de você, e lembrar de toda sua história, tudo que ele fez pelo o que você mais gosta: A música.

Quanto ao atraso, João Gilberto é gênio, e assim como todo gênio tem de ser compreendido. Assim como entendo seu perfeccionismo e suas poucas aparições em público. E lhe cubro de razões. Se não fosse assim, não teríamos o privilégio de ouvir o barquinho a deslizar no macio azul do mar...