segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ela disse que meu idioma soa bem, e eu desconversei para não ficar lisonjeado. Permaneci a dizer bobagens, já que ela nada entenderia. Para ser sincero, nem eu mesmo estava atento ao que eu dizia, minha atenção era toda naquele olhar esverdeado fixo em minha boca, gostando de meu sotaque latino. Escute, direi de forma vagarosa, tente entender ao menos o contexto. Não quero mudar a sua realidade, não planejei estratégia alguma para levar-te comigo ao Brasil. Permaneça aqui e, quando a lembrança desta noite voltar doloridamente à sua memória, você poderá matar a saudade de meu português através de uma fria ligação telefônica. Entendeu algo que eu lhe disse? Eu também me perdi um pouco, tropecei no verde dos seus olhos e caí em cima de minha língua. Vê-los mirando a minha boca me agrada tanto que forço ainda mais o acento, tento falar meu idioma de forma aberta, limpa. Quando a lembrança desta noite voltar doloridamente à minha memória, não poderei saciar minha solidão de maneira alguma, pois nasci em um país que vive longe de seus olhos.