segunda-feira, 17 de março de 2008

"Sei que amanhã quando eu morrer, os meus amigos vão dizer, que eu tinha bom coração..."




Nelson Antônio da Silva nasceu em 29/10/1909, na Rua Mariz e Barros, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Seu pai e tio eram músicos, cresceu rodeado de instrumentos e, aos domingos, eram organizadas rodas de samba em sua casa.


Freqüentou a escola primária Evaristo da Veiga, mas abandonou-a para trabalhar como eletricista. Nesta época, fez amizades na Lapa com Brancura, Edgar e Camisa Preta, os chamados “valentes”. Mais tarde, já adolescente, mudou com a família para a Gávea, pra finalmente se estabelecerem em uma vila operária do bairro. Freqüentava bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha, que foi quem lhe ensinou os primeiros acordes musicais ao cavaquinho. Foi nessa época que cunhou a sua maneira peculiar de tocar o instrumento apenas com dois dedos. Aos 16 anos, sem dinheiro para adquirir um cavaco, e também para pagar um professor, treinava com um emprestado. Por essa época, trabalhava como pedreiro, e compôs seu primeiro samba, o choro intitulado “Queda”. Apresentou-o aos amigos Juquinha, Edgar, Heitor e Mazinho, que logo o convidaram para integrar seu conjunto de samba e choro. Faziam shows em clubes nas redondezas da Gávea. Apesar de tocar bem o cavaquinho, era sempre necessário pedi-lo emprestado. Vendo-o nessa situação, Ventura, um amigo, presenteou-o com um cavaquinho.


Em 1931, arrastado a delegacia pelo pai de Alice Ferreira Neves, casou-se, com quem mais tarde teria quatro filhos. O casal foi morar no subúrbio de Brás de Pina. O pai de Alice indicou-o para servir na Cavalaria da Polícia Militar. Ele patrulhava o Morro da Mangueira, local onde fez amizades com sambistas como Zé com Fome e Carlos Cachaça. Ao conhecer Cartola, na quadra da Mangueira, ficou muito tempo conversando com ele, e seu cavalo, com o qual fazia a patrulha, regressou sozinho ao batalhão, o que ocasionou a sua detenção. Aliás, não era a primeira vez que ficara detido, já que passava dias sem ir ao quartel, devido a boemia, como ele mesmo falou: “Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumando com o xadrez. Era tranqüilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrez está ´Ente a cruz e a espada` ”. Foi expulso da corporação, separou-se da mulher, afastou-se dos filhos e ingressou de vez na boemia, passando a dedicar-se exclusivamente a música. Foi morar na Mangueira em 1952.


A partir daí teve diversas músicas de sua autoria gravada por consagrados cantores de rádio da época, como “Palhaço”, gravado por Dalva de Oliveira e “Amor que morreu”, Eliseth Cardoso.


Um marco importante de sua carreira musical, foi ter conhecido Guilherme de Brito, em Ramos, onde tocava nos botequins do bairro. Guilherme demonstrou-o interesse pelo samba e, não obstante, começaram a compor musicas, formando assim uma parceria que viria a trazer grande sucesso a dupla.


Em 1957, o cantor Raul Moreno fez a primeira gravação de “A flor e o espinho”.


Em 1958, o cantor Roberto Silva incluiu “Notícia” e “Degraus da Vida” no LP “Descendo o Morro nº 4”.


Em 1961 passou a freqüentar a casa de Cartola e Dona Zica. Com a inauguração do restaurante Zicartola, na rua da carioca, no centro do Rio de Janeiro, iniciou as suas apresentações públicas. Por essa época, Nara Leão gravou “Pranto de poeta”.


Em 1967, já conhecido e tendo suas músicas interpretadas por diversos interpretes de peso da época, deu um histórico depoimento para o MIS (Museu da Imagem e do Som).


Em 1968, participou do LP “Fala Mangueira”, ao lado de Clementina de Jesus, Cartola e Carlos Cachaça. Neste mesmo ano, Paulinho da Viola gravou “Não te dói a consciência” e Nélson Gonçalves “Não sei porquê”.


Dificilmente poderão ser listados todos os intérpretes de sua obra. Contudo, destacam-se Chico Buarque (‘Cuidado com a outra’ e ‘Folhas secas’), Elza Soares (‘Saudade, minha inimiga’ e ‘Pranto de poeta’), Clara Nunes (‘Palhaço’, ‘Minha festa’ e ‘Juízo final’), Nora Ney (‘Quando eu me chamar saudade’), Emílio Santiago (‘Quero alegria’), Eliseth Cardoso (‘A flor e o espinho’, ‘Luz Negra’ e ‘Degraus da vida’), Cláudia Telles ('Luz negra'), Leny Andrade ('Vou partir'), Orlando Silva ('Degraus da vida'), Beth Carvalho ('Folhas secas', 'Quero alegria' e 'Se você me ouvisse'), Cazuza ('Luz negra'), Alcione ('Luto'), Nélson Gonçalves ('Meu velho coração'), Elis Regina ('Folhas secas') e Cyro Monteiro ('Rugas'), além do próprio parceiro Guilherme de Brito em várias composições da dupla. Beth Carvalho foi uma das intérpretes que mais o gravou, tendo ela mesmo declarado que ele foi o seu maior influenciador na música e dedicado LPs e CDs exclusivamente a sua obra.


Seus parceiros, também, foram tantos que provavelmente nem ele mesmo possa se lembrar. Porém, destacam-se: Guilherme de Brito, Cartola, Jair do Cavaquinho, João de Aquino e Paulo César Pinheiro.

Morreu na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, vítima de um enfisema pulmonar.

Tratando-se de NELSON CAVAQUINHO, quaisquer textos que eu escreva aqui, pode ser chamado de resumo.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa Flávio, ficou ótimo!
Li tudo que você colocou até agora. Ficou perfeito.
Parabéns lindo, você tem um futuro e tanto, admiro o que você faz.

Beijos lindo.
Kelly.
Fortaleza-Ce.